sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre TEMPO PARA DANÇAR

Fui ver a peça do GOTA. A acção é contemporânea do fim da 2ª guerra, passa-se em Lisboa e foca a escassez material e de liberdades, na altura. Os "compromissos" de alguns e a coragem de outros. A solidariedade e a dor, o preconceito e o amor.
A encenação e o cenário são naturalistas, o que faz todo o sentido num texto desta natureza onde se pretende recriar, mostrar, fazer viver e sentir, o mais possível, o ambiente do tempo.
A interpretação, sóbria e coerente. A direcção de actores, muito equilibrada. O tempo de duração perfeito, a mudança de actos eficiente e discreta, num teatrinho estúdio onde o espaço e os meios não abundam. Nesse sentido, as luzes fazem milagres e o ambiente sonoro é adequado. O resultado e o balanço de conjunto é o de um espectáculo vivo, digno e muito actual. Porque não faltará muito para que tenhamos de voltar a criar galinhas no sótão. Quem tiver. Quem souber. Quanto à PIDE, dispensa-se. Já tivemos a nossa dose. Tê-la-íamos dispensado. Por isso também, é indispensável ver esta peça. Porque, não sendo do tempo, é do tempo, porque não queremos que o tempo volte.
Recomendá-la-ia também para escolas, nomeadamente no âmbito da disciplina de História. Pelo didactismo do tema/texto, a adequada contextualização histórica dos cenários, guarda-roupa e adereços, e como motivação para o gosto pelo teatro. Penso que funcionaria perfeitamente nestas áreas.
Acompanha esta representação, uma interessantíssima exposição de cartazes do regime, que pode ser vista na sala de entrada do teatro/associação.


Para quem não conhece o GOTA, trata-se de um grupo de teatro cuja história começa antes do 25 de Abril, que se tem mantido em actividade, embora com um pouco menos ritmo nos anos últimos, devido ao cansaço e falta de apoios, mas que recentemente retomou novo fôlego, com a criação de uma associação Faz de Gota, que pretende ser transversal às várias manifestações culturais (dança, música, exposições, conferências, etc), com o teatro no centro, porque foi essa a sua génese e foi dessa forma que até aqui chegou, mas com uma curiosidade que é a transdisciplinaridade presente nos elementos do coro que são actores, bailarinos que cantam, e por aí fora.. João Barros, actor, cenógrafo e encenador, e José Silva, técnico dedicado e multifacetado, têm mantido o fôlego, e hoje, com uma equipa mais alargada, e a produção de Paula Menezes, retomam a programação com a peça Tempo para Dançar, de Duarte Nuno de Figueiredo. Estreou a semana passada, com três espectáculos, retomou ontem, e estará ainda em cena amanhã, domingo dia 5 de Dezembro, às 16.30 e segunda dia 6, às 21.30.
Por não ter comigo o programa (imperdoável, eu sei), não vou nomear os actores e restantes elementos da equipa pois corro o risco de omitir algum, mas uma ida ao GOTA ver a peça corrigirá o meu lapso.

Risoleta C. Pinto Pedro

em:
http://aluzdascasas.blogspot.com/2010/12/tempo-para-dancar-duarte-nuno-de.html

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